Lúdica exposição de flashes de vida

Macksen Luiz

A ação não é contínua. Os tempos não são demarcados pela sequência dos segundos. O jogo não tem regras que se precise conhecer de antemão. As interseções de cenas não se fazem pela lógica dramática. A recepção da plateia não é induzida a identificar signos. Ninguém falou que seria fácil se localiza para além dessas negativas, e se afirma como consequência de integridade criativa que propõe uma dramaturgia viva, revitalizada, que incorpora a participação do espectador como personagem atuante desta lúdica exposição de flashes de vida. Casais em desavença, crianças que não querem abandonar a chupeta, adultos indiferentes ao medo infantil, solidão como estado de beligerância com o mundo, sentimentos exibidos em painel
de ternas observações sobre a rotina dos afetos. Aparentemente desarrumadas, como as vivências do cotidiano, revivem-se impressões emocionais que deixam em cena um rastro de cumplicidade. Capturar, de que maneira for, esses fragmentos de episódios afetivos, é o que o autor, co-diretor e ator Felipe Rocha lança a quem assiste a essa pequena jornada, que como se anuncia, não é fácil. Na ciranda de situações, surgidas num momento, retomadas, ou não, mais adiante, fala-se linguagem franca em ágil diálogo, e se rabisca a narrativa como um puzzle que se deixa manipular como sugestão para armar um desenho pessoal. No trio – Felipe Rocha, Renato Linhares e Stella Rabello – não há protagonismos, que fica por conta da dinâmica e fluência com que Alex Cassal, o outro diretor, imprime ao conjunto. Os intérpretes, plenamente integrados ao processo de elaboração cênica do texto, se transformam em prolongamentos da pulsação e vigor teatrais da escrita articulada para ser comparsa da expressão do ator.