Um momento privilegiado de bom teatro.


Inteligente e original, peça é um exemplo da nova dramaturgia
Bárbara Heliodora
É mais do que gratificante assistir a uma peça original, inteligente, com conteúdo e divertida, de um jovem autor nacional; “Ninguém falou que seria fácil”, de Felipe Rocha, é tudo isso, como pode ser constatado no Teatro Maria Clara Machado (Planetário) até o fim de abril. Toda uma série de episódios, que nascem de forma aparentemente aleatória mas na verdade estão controlados por mão forte, apresenta variados aspectos de comunicação humana, principalmente dentro do quadro familiar. Cada segmento, é preciso dizer, tem sua própria dinâmica, seu próprio e vivíssimo diálogo, tudo isso interpretado por um elenco de três atores que mudam de personagem e funcionalidade, compondo um todo coeso, que transmite o que o autor dizer. A maior prova da qualidade da peça é a rapidez com que a plateia se integra com uma dramaturgia de considerável originalidade. A única restrição possível seria a de a obra se prolongar um pouquinho mais do que aquilo que seria necessário, pois no final alguma coisa passa a impressão de estar sendo reapresentada.
Arena bem aproveitada 
A encenação é despojada, deixando o campo livre para os atores. A cenografia de Aurora dos Campos é mínima e funcional, os figurinos de Antônio Medeiros se encaixam bem no espírito do texto, a luz de Tomás Ribas, firme na colaboração com a agilidade da ação, e a direção musical de Rodrigo Marçal também está em boa sintonia com o todo. A direção, compartilhada pelo autor Felipe Rocha e por Alex Cassal, tem toda a agilidade que o texto requer e aproveita o espaço da arena com bastante eficiência. O elenco, formado por Felipe Rocha, Renato Linhares e Stella Rabello, consegue sustentar o ar de improvisação, ou até mesmo de brincadeira, em um trabalho que sem dúvida foi cuidadosamente detalhado, com destaque para a fluência com que passam de um personagem a outro, mudando função, sexo e idade sem qualquer hesitação ou demora. “Ninguém falou que seria fácil” é um momento privilegiado de teatro e razão para comemorações quando se fala da nova dramaturgia brasileira.
O Globo | Segundo Caderno – 15 de abril de 2011